Meu último post mais curtido no instagram, facebook e alhures foi da primeira aula de natação de Benjamin. Hoje, fui acompanhar a segunda.
A ideia inicial era que ele ficasse algumas sessões sozinho com o professor até ganhar confiança, mas por algum motivo - na verdade, uma reunião de motivos tolos, insignificantes, como a pequena quantidade de alunos presentes hoje, a ausência eventual de outra criança atípica que demandasse suporte e a conveniência dos horários do professor e da escola - ele entrou na água junto com a turminha.
Assim como no primeiro dia, ele ficou degustando um pouco da água com cloro, admirando alguns azulejos diferentes na borda, caminhando na água. A novidade foi ficar passando, sem medo algum, entre os coleguinha fazendo os exercícios, todos muito solícitos, desviando dele para não derrubá-lo.
Até que.
Até que, pela degustação ou por um caldo ou outro próprios de quem está começando, Benjamin engasgou, tossiu e vomitou na piscina.
O professor muito tranquilamente explicou que era normal, que ele deveria estar com a barriguinha ainda cheia do almoço, encheu de água, colocou para fora, tudo sob controle. Para ele e para todo o universo de pessoas típicas, provavelmente, sim. Bobagem, tudo sob controle. Uma criança aprendendo a se mover em um ambiente novo.
Só que a minha criança é autista e tem uma imensa dificuldade de socialização com outras crianças. Muito em razão disso, desde que a socialização pré-escolar dele começou, eu me tornei a mãe que logo aprendeu os nomes de todas as outras crianças, os nomes das mães, pais, irmãos. Aprendi os gostos, os desgostos de cada uma, e se brincar, aprendi os aniversários também. Eu adoro criança, mas é preciso admitir que esse é também o meu jeitinho de implorar “hey, por favor, deem uma chance ao meu filho”.
Assim que o vômito caiu na água, uma parte das crianças fez exatamente o que eu faria quando criança “eca, Benjamin vomitou na piscina” e saíram correndo da piscina. Eu fingi que não ouvi de tanto que me doeu.
Vejam, essas crianças não foram especialmente más, não ficaram repetindo, não zombaram, não chegaram na sala contando. E mesmo que o tivessem feito. São crianças. Mas meu botão de pânico é quebrado no ON e o dia, que está calorosamente agradável, virou um cenário de Frozen ao meu redor (sem a parte do let it go).
Liguei, claro, meu modo ultra-executivo, peguei meu filho no colo, fui ao banheiro, não consegui deixar ninguém dar banho nele porque ele chorava muito (não queria sair da piscina, mesmo vomitada ela, vomitado ele) e entrou em crise. Praticamente, entrei embaixo do chuveiro com ele. Sim, o chuveiro da escola. Não, eu não tinha levado roupa para isso.
Depois do banho, a crise ainda continuou um tempo, enquanto eu o vestia, sempre com a preciosa presença da Acompanhante Terapêutica dele ao meu lado (Pietra, obrigada!). Depois, direcionamos ele aos brinquedos do pátio, ainda muito choroso e se debatendo contra os corpos, o chão, o que fosse. Só depois de muita conversa - que eu acho que serve mais para quem está cuidando dele se acalmar, porque ele mesmo não ouve - e uma mamadeira pronta, deixei a escola confiando nas habilidades e no carinho de todos os profissionais que ficaram lá cuidando dele. Claro, das crianças também.
Chamei o uber e passei o caminho pensando, rezando talvez, segurando o choro e mentalizando para que na próxima aula de natação, caso seja em grupo, as crianças não lembrem ou não fiquem com receio de Benjamin vomitar na piscina, perto delas, novamente. Porque é isso, galera, podem chamar de nóia, porém, a menor, mínima e remota possibilidade de qualquer grão de areia (melhor seria, gota d’água, mas vai fazer trocadilho fubango assim no inferno, hein?) que acrescente mais alguma dificuldade de socialização à vida do meu filho dói de um jeito que nem o bullying na escola me doeu (eu era apenas gorda).
Porque eu sei que todos os dias Benjamin envelhece e todos os dias ficam mais visíveis todas as suas diferenças. Todos os dias, então, eu me pego implorando ao universo que ele seja amado e aceito do jeito dele pelas outras crianças. E se, hoje, eu recebesse uma dádiva, um único pedido realizável pelo gênio da lâmpada, pelo resto da minha vida, não levaria nem dois segundos para pensar: eu quero que meu filho tenha amigos.
(Esse texto foi escrito entre muitas lágrimas porque só ao chegar em casa eu pude achar um cantinho para chorar e escrever, não necessariamente nessa ordem. Se eu já não costumo revisar texto aqui, esse então… Perdoem qualquer português mal dito).
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Eu tenho uma filha típica que faz natação com uma criança atípica, e ela ficou bem feliz quando conversou com ele uma vez. Ela sabe que ele é autista, e o fato dele ter conversado com ela fez com que ela se sentisse especial, o que a deixou muito feliz. Acredite, as crianças típicas tbm querem ser amigas dele, e acho que vão entender o que aconteceu e vai ficar tudo bem. Bjks
Graças a Deus, temos tido mais acesso a informação é isso ajuda muito.
Temos muito a percorrer, mas precisamos colocar o assunto na mesa, sem medo e juntos vamos melhorar a vida dos nossos pequenos e dos seus pais.
Estamos juntos e o Ben ( se me permite) terá grandes amigos, pode ter certeza.