Eu espero que todes estejam curtindo o carnaval e leiam isso só na quarta-feira.
“Ah, mas tem gente que não gosta de carnaval”.
Gente esquisita, sinceramente. Carnaval é bom demais. Claro que você pode discordar aí na sua casa, como sempre.
Eu estou longe do carnaval há anos, mas contra a minha vontade.
Fui envolvida e me envolvi numa sequência de tragédias coletivas (pandemia) e pessoais (doutorado, maternidade solo & atípica) que bloquearam meus blocos. Tragédia, aqui, é tudo que me impede de carnavalizar.
Tirando a pandemia, na verdade, a gente pode pensar que o que barrou meus carnavais é a falta de dinheiro. Não está errado.
Eu pagaria alguém para ficar com Zé e viajaria para o Rio de Janeiro, tranquilamente (ou nem tão tranquilamente, mas viajaria).
Só que ficar com Zé exige mais requisitos do que o babysitting convencional, logo, mais grana ainda. Chance zero.
Na minha idade, eu nem iria em bloquinhos, não (ok, talvez não resistisse ao Bola Preta). Ficaria feliz com minha arquibancada perto do recuo das baterias na Sapucaí e minha mochila cheia de tranqueiras para comer assistindo meu espetáculo favorito ever.
Choraria quando passasse o Salgueiro e cantaria o samba inteiro, claro, aos berros.
Por que não Salvador ou Recife? Eu curto, sim, frevo e axé e coisa e tal. Mas, amor mesmo, é pelo samba.
Mais especificamente, sou fascinada por sambas enredo, que ouço o ano inteiro, não tem isso de “época de carnaval”. Assim, dinheiro eu tivesse, iria para o Rio de Janeiro.
Quando Zé crescer, pretendo levá-lo à Sapucaí (talvez não na arquibancada bem ao lado do recuo, claro).
Meu pai sempre gostou de samba de enredo e nunca pode me levar. Mas quando eu fui à Sapucaí, ele ainda era vivo e eu telefonei de lá para dizer “estamos aqui”.
Possibilidades mais modestas para um carnaval também me agradariam. Aracaju tem carnaval, sim, com destaque para o Descidão dos Quilombolas, que deve estar, nesse exato momento que escrevo, quebrando tudo lá pelos lados da Rua de Geruzinho.
Levar Zé ou não? Claro que não. Criança pequena e atípica em bloco que não seja da escolinha, só com rede de apoio (e olha que no bloco da escolinha eu contei com duas tias dele como suporte).
Obviamente, não recebi convites para ir ao Descidão. Convidar uma pessoa como eu implica, necessariamente, em ter uma solução para Zé que, se for me ajudar a levar, tem que contar com, no mínimo, três coisas: disposição para colo quando solicitado; disposição, agilidade e disponibilidade para ter que sair do bloco a qualquer momento, jogo de cintura e ginga para inconvenientes como troca de fraldas de uma criança que não é mais um bebê.
Quem vai querer algo assim, não é mesmo?
Deixar Zé em casa só com a avó? Jamais. Sem condições. Seria chamar SAMU para dois (quiçá, 3). Mamãe não segura o rojão de Zé. Pelo menos não para eu cair na gandaia. Se fosse um retiro da Canção Nova ou um planejamento estratégico de uma multinacional, talvez (nesse último caso, no entanto, acho que eu teria dinheiro…).
Mães solo sabem perfeitamente que perderam o direito à diversão. Não só porque acumulam todos os deveres da parentalidade, mas porque sobre nós recai um julgamento, às vezes, tácito, cuja pena é a impossibilidade de fruição da vida, pois já “fruímos demais” [Na hora de fazer não pensou nisso…]. Qualquer prazer que seja está vedado [Vai que você cuida do filho de uma mãe solo para ela ir ao carnaval e ela volta grávida de outro, né? Tudo puta…].
Uma das coisas que eu mais gosto de fazer no dia a dia é sentar numa livraria, pedir um café e ficar lá, vendo livros, lendo, conhecendo as novidades. E nem para esse tipo de prazer há quem me renda nos trabalhos com Zé. Imaginem para a balbúrdia.
Dito isto, eu estou, então, há anos, no carnaval da melancolia. Todos os dias me dói a sensação de perder mais um. E cada carnaval perdido está perdido para sempre. Não recuperaremos os que não aconteceram na pandemia e eu não recuperarei os perdidos para os meus impedimentos particulares. Aqui, só resta praticar a Frozen e let it go…
Como ainda tenho penosos dias descarnavalescos pela frente, resolvi fazer 3 coisas que me trazem alegria: pensar na festinha de aniversário de Zé (a data é 10/03, mas a comemoração, na escola, será 14/03), atualizar a lista de sugestões de presentes para ele; e sortear livro aqui.
A pessoa sorteada de março é a dona do email <igor.rdrs@gmail.com>. Por favor, entre em contato comigo (linpjs@gmail.com) para informar seu endereço físico. O livro, vocês já sabem, é surpresa, mas posso dizer que tem a ver com carnaval.
Um beijo em cada um e cada um. Carnavalizem.
[Ok, ou não. Mas sejam felizes. Gente feliz não tem tempo para julgar mães solo e nos sentenciar a mortes reais ou simbólicas].
Agora que a ganhadora do mês passado já recebeu o livro dela, inclusive, revelo aqui o título de fevereiro, nada carnavalesco:
Penitência: a prisão e os evangélicos, de autoria do meu querido Samuel Lourenço, livro que é uma mistura de autobiografia e análise do papel das igrejas evangélicas no cárcere (aqui, com duplo standpoint: Samuel é evangélico e sobrevivente da prisão).
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Disse tudo e fechou com chave de ouro: “gente feliz não tem tempo para julgar “ bjs
Gente feliz não tem tempo para julgar. É isso! 🌷🌻