A maternidade atípica me trouxe essa sensação nova que é odiar fins de semana.
Passo sábados e domingos em casa com minha mãe e meu filho. É muito raro sairmos. Ocorre quase exclusivamente quando tenho que levá-lo a aniversários.
Ah, a socialização da criança? A exposição, a estimulação? Bom, quem estiver preocupado(a) com isso, paga a babá, ou manda um recadinho para o genitor sobre a insuficiência da pensão, ou sei lá, passa aqui e pega Zé para um passeio.
Agora, eu, euzinha, não tenho força vital, nem material, para sair e passear com meu filho. A real é essa. Quem tem filho típico só cala a boca, por favor. Se seu filho entende comandos simples e brinca “funcionalmente” com brinquedos e outras crianças, fica quieta, agradece a Deus e me deixa em paz. Meu Zé come coisas do chão, come areia, não fica num espaço kids sem mim, etc etc etc.
Sair com Zé é uma operação de guerra. Eu tenho que ficar num estado de alerta de bombardeio e levar mantimentos como se fosse para um abrigo antiaéreo, afinal, a criança de 04 anos não come nada da rua e tenho que levar mamadeira; não desfraldou e tenho que levar toda a parafernalha de pomada, lenço, fralda, muda de roupa. Enfim, é como se eu tivesse um eterno bebê, só que enorme, pesado, e forte.
Depois de uma semana procurando emprego, levando de uma clínica para outra, levando e buscando da escola, participando de evento da escola, discutindo se tal e qual evento da escola é adequado a ele, fazendo reunião na escola sobre a nova equipe de psicologia, assim, na moral, quem precisa de suporte - alto grau de suporte - para sair com Zé no final de semana, sou eu. E eu não tenho. Nem baixo, quanto mais alto.
Aliás, aos finais de semana, é também quando observo como as pessoas somem. Olha, eu acho que tenho 1 amiga na cidade onde moro que todo final de semana dá notícias e pede notícias. Uma. Ela chama para sair mesmo sabendo que não vou na maioria das vezes, mas que quando aceito é um grande passo. Ela tem um filho típico quase da idade de Zé. No meu testamento, a guarda de Zé vai ficar para ela, isso já está combinado, falta formalizar, mas esse ano ainda quero cuidar disso.
O restante - todo mundo - sumiu. Todo mundo da cidade, né? Meus amigos de fora sempre mandam um salve. Aliás, será que é isso? A galera de longe, por não correr o risco de ser chamada a ajudar de perto, pergunta se pode ajudar; enquanto a galera que mora perto, e efetivamente corre o risco de um pedido de ajuda, some logo que é para não segurar nenhum b.o.?
Gente, eu sou péssima em pedir ajuda. Não se preocupem. Em geral, respondo que está tudo bem.
Tem também o fato de eu ter virado um nada da vida. Digo isso com tranquilidade. Meus amigos do direito seguiram carreiras jurídicas tradicionais: defensores, advogados, analistas e técnicos em tribunais (não vou dizer juízes e promotores porque não tenho essas amizades). Já os amigos pesquisadores, viraram professores universitários.
Eu virei mãe. Aos 38 anos de idade (agora, 43). Mãe solo. Mãe de autista. E c’est fini. É possível que role uma exclusão por seleção natural. Não me revolta. Mas eu também não mendigo atenção.
Nos finais de semana, a solidão fica mais evidente. O cárcere da casa se impõe. Que bom que amanhã é segunda-feira. Aliás, são 00:36. Um alívio.
Boa semana para vocês. Caminhos abertos.
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Não pelos mesmos motivos, mas desde que voltei, ou melhor me voltaram para essa cidade, aposentada, sinto o mesmo nos finais de semana e feriados.
Amigos longe, isolamento social, faz falta realmente ter com quem dividir.
A solidão dos finais de semanas precisa ser debatida. A solidão daqueles que ficaram. A das mães solo. E principalmente das mães atípicas. Um beijo.